Estudiosos valorizam papel do saneamento no enfretamento às pandemias
O saneamento básico tem sido fundamental no combate ao Coronavírus e também tem colaborado no planejamento de ações de prevenção.
Foi o que demostrou a mesa-redonda “O papel do saneamento no enfrentamento da pandemia”, promovida na manhã desta quarta-feira como parte da programação do 10º Encontro Técnico CASAN – Inovando para o futuro.
Moderada pela engenheira sanitarista e ambiental Heloise Cristine Schatzmann, da Gerência de Políticas Operacionais (GPO) da Companhia, a mesa discutiu a importância do saneamento básico desde o início da pandemia, e apresentou um panorama do que aconteceu nesse setor no Brasil e no mundo devido à Covid-19.
Engenheira sanitarista, professora da UFSC e coordenadora do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da universidade, Maria Elisa Magri falou sobre o trabalho de monitoramento dos esgotos como ferramenta epidemiológica, capaz de auxiliar o poder público na tomada de decisões para o enfrentamento da Covid.
Por conta desse monitoramento, partículas do novo coronavírus foram encontradas em duas amostras do esgoto de Florianópolis colhidas em 27 de novembro de 2019, dois meses antes do primeiro caso clínico ser relatado no Brasil. A descoberta teve grande repercussão na mídia e foi descrita na pesquisa “SARS-CoV-2 in human sewage in Santa Catarina, Brazil, November 2019”, que tem a professora como uma das autoras.
“A vantagem de monitorar os esgotos em lugar do indivíduo é que se trata de um método não intrusivo, com rápida coleta de dados e custo comparativamente mais baixo. Conseguimos fazer o mapeamento de como a população está se comportando e como o vírus está circulando nessa população”, explicou Maria Elisa.
“O elementar de tudo é a higiene”
Doutor em Engenharia Ambiental pela UFSC na área de Saúde Ambiental, e especialista em Engenharia Sanitária pela Faculdade de Saúde Pública da USP, o professor Guilherme Farias Cunha fez um histórico das pandemias e epidemias que desafiaram a humanidade − e como o saneamento fez diferença para o enfrentamento.
“As pandemias nos mostraram que o elementar de tudo é a higiene. Ter água de qualidade para consumo próprio, para fazer a higienização do ambiente e pessoal, é um grande passo para evitar as doenças que ameaçaram a humanidade. Claro que existem outras medidas fundamentais no caso da Covid, como o distanciamento social e o uso de máscaras, mas tudo começa com a qualidade da água”, destacou o professor.
O engenheiro Marcos Helano Fernandes Montenegro, do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas) e Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), destacou a água como um direito humano e trouxe reflexões sobre o papel do saneamento básico na cidadania e na saúde da população mais necessitada.
“Nós temos uma tendência a naturalizar situações mais frágeis. São inúmeras famílias sem abastecimento regular de água, que não têm caixa d’água, não têm banheiro e vivem em locais com esgotamento irregular, a céu aberto. A pandemia é uma oportunidade para pensar no desafio que temos pela frente”, afirmou Marcos.
“Nosso esgoto reflete o que somos”
“O nosso esgoto reflete o que nós somos, em todos os sentidos. É onde vai parar aquilo que nosso organismo elimina ou não aproveita, o residual de alimentos e tudo mais o mais que consumimos. Ele reflete também o nível de educação sanitária que a gente tem, questões físicas, fisiológicas, de alimentação, nossa exposição aos mais diversos produtos químicos. Além disso, nos traz muitas informações sobre as doenças da população.”
Professora Maria Elisa Magri
“Não temos higiene pessoal”
“Uma lição que aprendemos com essa pandemia é que, em geral, não temos higiene pessoal. Por isso a insistência através da mídia em todo mundo para que as pessoas lavem as mãos. Ainda não aprendemos a fazer a higiene corporal corretamente.”
Professor Guilherme Farias Cunha
“Temos que ver a realidade de modo mais solidário”
“Fica o questionamento de como atender os mais vulneráveis e os mais pobres. Isso significa que temos que rever paradigmas e encontrar formas de ver a realidade de modo mais solidário. Com isso, ganha a sociedade como um todo, que se torna mais segura, mais saudável e sustentável.”
Engenheiro Marcos Helano Fernandes Montenegro
O 10º Encontro Técnico da CASAN prossegue até sexta-feira. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site: https://10encontrotecnico.casan.com.br.
Imagens: Acervo CASAN