Estação de tratamento de esgoto abriga parte da história de Laguna
Download: Sonora Gerente de Meio Ambiente da CASAN / Patrice Barzan
Segunda cidade mais antiga de Santa Catarina, fundada por bandeirantes há 344 anos, Laguna possui agora o diferencial de associar saneamento e história.
Desde o início deste ano, a Estação de Tratamento de Esgotos da Vila Vitória abriga peças resgatadas durante as escavações realizadas entre os anos de 2014 e 2015 para a rede de coleta do primeiro Sistema de Esgoto da cidade, implantado pela CASAN.
Devido ao grande volume e elevado grau de desgaste de algumas peças, com aval do IPHAN/SC, parte do acervo (cerca de 10%) foi novamente enterrado junto à ETE (Estação de Tratamento).
O avançado estado de decomposição e degradação corrosiva recomendava seu retorno a um solo semelhante do qual foi exumado, para garantir a longevidade.
“Esse é o primeiro trabalho registrado oficialmente no Brasil de enterramento de peças após curadoria”, explica o arqueólogo Almir do Carmo Bezerra, coordenador geral da curadoria.
Em breve, a ETE Laguna receberá placas contando os passos da obra de esgotamento sanitário básico, os cuidados arqueológicos que recebeu e a importância das peças recuperadas para a história e a cultura de Santa Catarina.
“Desde o processo de licenciamento ambiental o projeto do Sistema de Esgotamento Sanitário de Laguna levou em conta que as obras seriam executadas em um sítio histórico. Com isso, além de ganhar essa infraestrutura tão importante para a saúde da população e a conservação do ambiente, a cidade conta com esse resgate e preservação de sua história”, destaca a gerente de Meio Ambiente da CASAN, Patrice Barzan.
Valor arqueológico
Resgatadas por profissionais da Sapienza Arqueologia e Gestão do Patrimônio, empresa contratada pela CASAN para acompanhar as obras do Sistema de Esgoto de Laguna, as peças encontradas no solo de Laguna passaram por processos de higienização, dessalinização e catalogação, sendo levadas para guarda do Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia (Grupep) da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), em Tubarão.
Encarregada da Curadoria dos objetos recolhidos, trabalho que objetiva o acondicionamento do material e a proteção patrimonial, a empresa pernambucana ANX Engenharia e Arqueologia percebeu que devido ao grande volume e elevado grau de desgaste de algumas peças era recomendado o enterro de parte do material – que já está sob o terreno da Estação de Tratamento de Esgotos da cidade.
Correntes, trilhos e âncora
Durante a escavação das obras do Sistema de Esgotamento Sanitário de Laguna foram encontrados importantes vestígios arqueológicos, especialmente nas proximidades do antigo Porto e da Estação Ferroviária, do Mercado Público Municipal (incendiado em 1939) e no Centro Histórico.
Entre as 3.795 peças resgatadas há correntes de diversas formas e comprimentos, trilhos de trem, artefatos de madeira, ferramentas rústicas usadas provavelmente para a construção da ferrovia, objetos de cavalaria, cordas, louças de origem europeia, fragmentos cerâmicos, fragmentos ósseos (de bovinos, suínos, aves e peixes) e uma âncora com 2m20cm de haste e 1m55cm de braço.
O relatório final do trabalho, produzido pela ANX, compõe um mosaico dos costumes de Laguna ao longo dos séculos, como a dieta e a vestimenta local, as aceleradas variações de arquitetura, as formas de trabalho, a intensa movimentação de pessoas e cargas típica de uma cidade portuária e até a nacionalidade dos produtos importados em cada época.
Fotos: Acervo CASAN