Especialista do IMA descarta ligação entre acidente na lagoa e morte de peixes
Em entrevista ao programa Condomínio Legal, conduzido pelo jornalista Renato Igor, da CBN Diário, o oceanógrafo Carlos Eduardo J. Tibiriçá, especialista do IMA em microalgas nocivas, descartou qualquer ligação entre o acidente com a Lagoa de Evapoinfiltração (LEI) ocorrido dia 25 de janeiro e a morte de peixes registrada a partir de 22 de fevereiro. O programa foi ao ar no sábado, 13 de março. Principais trechos:
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Pergunta: Qual os resultados preliminares do IMA sobre as coletas na Lagoa da Conceição?
Carlos Eduardo Tibiriçá - A situação trófica da Lagoa (da Conceição), em termos gerais, ou seja, oxigênio e nutrientes da Lagoa: isso não mudou. Isso não muda em curto prazo. A Lagoa continua em estado crítico, precisa de ações de curto, médio e longo prazo para melhorar sua situação. Mas investigamos um pouco mais a microalga (presente na Lagoa) na literatura e chegamos à conclusão que ela não é tóxica para seres humanos. É uma boa notícia. Se não houver nenhum outro agente tóxico para seres humanos, é possível que possamos liberar a Balneabilidade da Lagoa, conforme as análises que são feitas rotineiramente pelo IMA.
Pergunta - Mas ela é a causa da mortandade de peixes?
Tibiriçá – Sim, é muito provável. Não há como voltar à situação, a uma foto do dia, mas de todas as explicações mais plausíveis a mais provável é que seja uma combinação dessa alga, que é nociva para peixes, tem relatos dela causando mortandade de peixes em várias partes no mundo, inclusive aqui no vizinho Uruguai. Além da alga, a própria falta de oxigênio na Lagoa favorece isso, pois o peixe não consegue respirar direito. Essa alga produz um muco que gruda na brânquia do peixe e o impede de respirar. Essa combinação é fatal.
Pergunta - A origem disso (algas e a mortandade) é o transbordamento da lagoa artificial da CASAN?
Tibiriçá - Provavelmente não. Eventos dessa magnitude, em geral, ocorrem naturalmente. Podem ser potencializados pela ação do homem. Por exemplo, a situação da Lagoa da Conceição ... hoje já está eutrofizada, pois possui uma grande quantidade de nutrientes. Então, não ocorreria naturalmente. Teria floração de algas tóxicas, mas bem menos frequência e intensidade. O tamanho da floração seria menor se a quantidade de nutrientes na Lagoa fosse menor.
Pergunta – Então esse ponto que o senhor traz é bem importante. Não há como apontar uma relação direta entre o acidente nas dunas e este fenômeno (da mortandade).
Tibiriçá - Não. A mortalidade de peixes que operou ali pelo dia 20 de fevereiro não existe causa e efeito com o transbordamento da lagoa artificial da CASAN.
Pergunta - Mas esse fenômeno pode ser desencadeado pela ação humana.
Tibiriçá - Sim. A Lagoa recebe direta e indiretamente contaminantes orgânicos e inorgânicos. O mais relevante para as algas são os nutrientes que vêm de esgoto tratado, de esgoto não tratado, de esgoto maltratado ... Com certeza, o transbordamento da lagoa artificial traz um pouco mais de nutrientes para essa Lagoa (da Conceição) que já estava saturada de nutrientes. O processo de eutrofização é um processo que ocorre a longo prazo. Está ocorrendo há várias décadas. Não teve nenhuma mudança na história eutrófica da Lagoa (da Conceição) de janeiro e fevereiro para cá. É um processo de longo prazo que tende a se agravar, se não for feito nada.
Pergunta: Quais os próximos passos do IMA em relação à Lagoa, envolvendo o episódio do transbordamento da lagoa artificial das dunas?
Tibiriçá - Estamos numa fase de muito estudo. Toda a equipe técnica do IMA, com especialistas de várias áreas, como a do saneamento, por exemplo, estão estudando o que provocou esse fenômeno. Vamos juntar com informações de outros órgãos, como Floram e UFSC, e tentar apontar as medidas a serem adotadas já, imediatamente, e as de médio e longo prazo para melhorar a situação da Lagoa e resolver esse problema de poluição.
Pergunta - Há muito tempo se fala que a Lagoa (da Conceição) não vai resistir ... ela vai morrer, em função das ligações clandestinas ...
Tibiriçá - A situação dela (Lagoa da Conceição) está crítica. Se o oxigênio chegar a zero é uma situação extrema. E tem pesquisadores da UFSC que indicam que a situação já ocorre há alguns anos. Não se pode mais fingir que não vê.