Encontro Técnico da CASAN aborda o aproveitamento dos subprodutos do esgoto
O coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações Sustentáveis de Tratamento de Esgoto (INCT ETEs Sustentáveis), Carlos Chernicharo, abriu a programação desta quarta-feira (6) do 10º Encontro Técnico CASAN. Durante a palestra, ele apresentou um panorama sobre as potencialidades do reúso dos subprodutos gerados pelo tratamento de esgoto.
O pesquisador iniciou abordando o cenário atual do tratamento de esgoto no Brasil e as ETES convencionais. “O que temos hoje é uma ausência da percepção do retorno financeiro com a ETE. Paga-se pela disposição final do lodo, que é levado para aterros; o biogás é desperdiçado, sendo simplesmente queimado; e o líquido tratado é disposto em um curso d’água”, apontou.
Em contrapartida, Chernicharo detalhou o funcionamento das ETEs sustentáveis. Enquanto a ETE convencional é baseada na economia linear, com o esgoto sendo considerado um passivo ambiental e um custo, com foco no atendimento ao padrão de lançamento; a ETE sustentável se baseia na economia circular, considerando o esgoto como recurso, obtendo receita a partir do tratamento, com foco na recuperação dos subprodutos.
“Se na ETE convencional, o subproduto líquido é lançado em um curso d’água, na ETE sustentável passa a ser considerado um recurso hídrico. Do mesmo modo, os subprodutos sólidos, ao invés de irem para aterros sanitários, são transformados em fertilizantes e combustível, e o subproduto gasoso deixa de ser queimado para ser utilizado como energia térmica ou elétrica”, explicou.
De acordo com ele, essa mudança de paradigma é sustentável e pode se tornar uma nova fonte de recursos. “Enquanto o mundo utiliza suas reservas, não faz mais sentido continuar aterrando lodo e fósforo em aterros sanitários. Hoje vemos o esgoto como um custo e precisamos tentar trazer um novo olhar, transformando o esgoto de vilão em uma possibilidade de aproveitamento de recursos”, destacou o engenheiro.
Como exemplo, Chernicharo citou o uso de nitrogênio para a fabricação de fertilizantes químicos. No sistema convencional, o nitrogênio é retirado do ar atmosférico, em um processo que consome muita energia e que contribui para as mudanças climáticas do planeta. Já o nitrogênio, o fósforo e o lodo obtidos a partir do tratamento de esgoto, podem ser utilizados na agricultura.
O coordenador do INCT falou ainda sobre a recuperação de recursos a partir do tratamento de esgoto utilizando a degradação anaeróbica. Segundo ele, o processo tem baixa demanda energética, uma baixa produção de lodo (que é adensado e digerido), custo operacional cerca de 10 vezes inferior e preserva os nutrientes no efluente. “Já temos o maior parque de reatores anaeróbicos do mundo. São 1373 reatores em operação, o que corresponde a 37% das ETEs instaladas no país. Não estamos pleiteando ou defendendo simplesmente o sistema anaeróbico, mas entendemos que uma combinação pode trazer ganhos importantes”, assinalou.
Para Carlos Chernicharo, as ETEs sustentáveis têm vantagens reais, já contam com tecnologia disponível, trazem benefícios para além dos ganhos ambientais e benefícios socias. “Uma questão ainda é a viabilidade econômica. Ela existe, mas não para toda as situações. Por isso, temos uma demanda de estudos mais aprofundados, para que se amplie o escopo dos estudos de viabilidade econômica, comparando o uso do lodo, do biogás como alternativas, ao invés de simplesmente prever o descarte em aterro. Para se ter uma ideia, na Inglaterra mais de 60% lodo já é vendido para a agricultura”, exemplificou.
O 10º Encontro Técnico da CASAN prossegue até sexta-feira. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site: https://10encontrotecnico.casan.com.br.
Imagens: Acervo CASAN